Antes da geladeira, do saquinho pronto ou do tempero industrializado, existia o cheiro vindo do pilão. Era a cozinha da vó, da tia do interior, da curandeira da roça. As ervas e temperos não eram apenas sabor: eram proteção, saúde, memória, sabedoria passada de geração em geração.
Neste artigo, vamos explorar os principais temperos usados na culinária brasileira, desde os mais tradicionais até as folhas aromáticas que colorem quintais e feiras livres. Você vai conhecer seus usos, origens e como usar cada um com propósito e alma.
O papel ancestral dos temperos
Na cozinha ancestral, os temperos eram escolhidos com intenção: para aquecer o corpo, limpar o sangue, aliviar dores, atrair boas energias. Alecrim espantava a tristeza, manjericão limpava o ambiente, louro atraía prosperidade. Temperar era mais do que cozinhar — era ritual.
Além disso, o uso de ervas frescas, secas e especiarias sempre esteve ligado à sabedoria popular afro-indígena, com influência portuguesa. A mistura formou a base da cozinha brasileira: rica, viva e aromática.
Temperos mais usados no Brasil (e como usar)
A seguir, os temperos e ervas mais populares no Brasil, usados tanto em receitas regionais quanto no cotidiano das casas brasileiras:

1. Alho
O rei dos temperos. Presente em quase todo preparo salgado: arroz, feijão, refogados, molhos e carnes.
- Uso ancestral: proteção, purificação, fortificante natural.
2. Cebola
Base aromática essencial, usada em refogados, ensopados, farofas e moquecas.
- Crua em saladas ou curtida no vinagre.
- Combinada com alho, forma o “duo sagrado” do tempero brasileiro.
3. Salsa (ou cheiro-verde)
Muito usada no final do preparo de sopas, feijão, arroz, massas e saladas.
- Traz frescor e ajuda na digestão.
- Combina com tudo e dá cor ao prato.
4. Cebolinha
Irmã da salsa, geralmente usada crua ou na finalização de pratos quentes.
- Ótima em omeletes, massas, caldos, legumes cozidos.
5. Coentro
Amado no Norte e Nordeste, odiado por muitos no Sul e Sudeste. É intenso, fresco e vibrante.
- Essencial em moquecas, caldos, peixes, vatapá, feijão verde.
- Usado também em chás e banhos de descarrego.
6. Louro
Folha seca usada no cozimento de feijões, caldos, carnes e sopas.
- Tem sabor marcante e traz propriedades digestivas e diuréticas.
- Simboliza vitória e fartura na tradição popular.
7. Manjericão
Fresco ou seco, tem aroma doce e levemente picante.
- Combina com massas, pizzas, molhos de tomate, legumes assados.
- Na tradição afro-brasileira, é purificador e equilibrador espiritual.
8. Orégano
Muito usado em pratos com queijo, ovos e molhos. Dá aquele sabor familiar da pizza.
- Pode ser polvilhado diretamente no prato ou adicionado durante o cozimento.
9. Alecrim
Marcante e perfumado, ótimo para batatas, pães, carnes e frangos.
- Atua como anti-inflamatório e energizante.
- Em benzimentos, usado para limpar a mente e o campo energético.
10. Pimenta-do-reino
Moída na hora, é usada para realçar o sabor de carnes, caldos, molhos e legumes.
- Estimula a digestão e ativa a circulação.
11. Páprica (doce, picante ou defumada)
Usada em carnes, legumes, marinadas, frangos assados.
- Traz cor e profundidade ao sabor.
- De origem húngara, foi abraçada pela cozinha brasileira contemporânea.
12. Cominho
Muito usado no Nordeste. Está presente no tempero do feijão, carnes de panela e farofas.
- Tem sabor forte, terroso, quente.
- Em rituais, é usado para proteção.
13. Colorau (urucum em pó)
Mais corante do que tempero, mas essencial em várias receitas. Confere cor vermelha e suave aroma de terra quente.
- Usado em moquecas, ensopados, galinhadas, arroz.
14. Cúrcuma (açafrão-da-terra)
Dá cor dourada e sabor levemente amargo.
- Muito usada em frango, arroz, caldos e receitas detox.
- Potente anti-inflamatório, considerado sagrado em várias culturas.
15. Gengibre
Raiz usada ralada ou em rodelas em carnes, chás, sucos e marinadas.
- Traz calor, ativa a imunidade e ajuda na digestão.
- Usado em rituais de cura no Candomblé e em infusões indígenas.
Como começar a usar mais temperos naturais
- Abandone os caldos prontos e temperos industrializados.
Eles contêm muito sódio, glutamato monossódico e conservantes. - Monte seu cantinho de ervas.
Um vaso de alecrim, manjericão, hortelã ou coentro já muda tudo. - Use o pilão ou amasse com as mãos.
Quando você tritura as ervas, ativa os óleos essenciais. É alquimia. - Experimente combinações.
Alecrim com limão, cominho com alho, cúrcuma com pimenta. Vá criando seu próprio tempero da casa. - Tempere com intenção.
Cozinhar é uma forma de cura. Escolha o que você precisa: calor, leveza, proteção, alegria?
Conclusão
Ervas e temperos são parte viva da nossa história. Cada folha, raiz ou semente carrega um saber antigo. Ao temperar um prato com ingredientes naturais, você também tempera sua saúde, sua energia e sua conexão com o que é essencial.
Trazer esses ingredientes para a cozinha não é moda — é reconexão. É lembrar que antes do fogão elétrico, havia fogo, pilão e cheiro de casa cheia. E que ainda hoje, podemos alimentar com mais sabor, alma e consciência.
Referências
- Ministério da Saúde – Plantas Medicinais
- EMBRAPA – Plantas Condimentares e Aromáticas
- Portal Drauzio Varella – Ervas e Temperos Naturais
- Lorenzi, H. & Matos, F.J.A. – Plantas Medicinais no Brasil
- HARVARD – Herbs and Spices Guide